Topo : Outras : Poema do Morto-Vivo
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Era noite, chovia, o sol raiava;
Elefantes pulando de galho em galho
E o frio, tal calor comunicava
Que de nada servia o agasalho.
Vindo do norte, o vento sul soprava,
Trazendo um cheiro horripilante;
Ouvia a voz de um mudo que falava,
Era o cadáver de um morto agonizante.
Um homem velho em plena juventude,
Com uma careca enorme e cabeluda,
Morrera enfermo, cheio de saúde,
Sorrindo à toa de expressão suicida.
Aconcheguei-me e perguntei-lhe admirado:
"Quanto tempo estás aqui, neste lugar?"
Silêncio...vejam só que malcriado!
O defunto teimava em não falar.
Fiquei fulo de raiva. Minha face
Enrugou-se, esticando-se demais.
Ninguém passava ali, mas se passasse,
Passava adiante, andando para trás.
Calmamente perdi a paciência,
Tive vontade de meter-lhe um murro.
De mansinho, gritei com violência:
"Levanta-te do chão, defunto burro!"
Nesse instante, parece até mentira,
O MORTO-VIVO exclamou de mau humor:
"Deixa-me, daqui ninguém me tira,
Na sepultura, uf! Que calor!"
Valente como sou, já quis gritar,
Porém, mudei de idéia num instante.
E, ao longe, num boteco fui buscar
Um refresco para um morto agonizante.
Cheguei cedo demais, já era tarde
Todo encolhido, no seu porte altivo,
O valente cadáver, que covarde!
Morrera, estava morto o MORTO-VIVO!
Tomei um susto que até fiquei mudo,
Gritei tão baixo que nem sequer ouvi;
Fiquei cego e vendo aquilo tudo,
Vendo o morto morrer, também morri.
(Autor desconhecido)
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Enviada por: Cristiano Caldeira -- cris@cris-online.com